Entenda o que é e quais são os fatores que influenciam na criação de memórias falsas na população
Você já ouviu falar no Efeito Mandela? O fenômeno é visto como um desafio social e vem se tornando cada vez mais comum graças à internet e informações falsas sendo divulgadas. Entenda o Efeito Mandela, veja o que é deepfake e como funciona essa “falha” de memória dentro de uma comunidade.
O que é o Efeito Mandela?
O “Efeito Mandela” é o nome popular dado a um fenômeno em que um grande número de pessoas se lembra claramente de um evento histórico ou cultural que, na verdade, nunca ocorreu ou que ocorreu de uma maneira muito diferente.
Esse fenômeno social recebeu esse nome porque muitas pessoas acreditam que se lembram claramente da morte de Nelson Mandela (principal líder contra o apartheid racista na África do Sul) na prisão durante os anos 1980, embora ele tenha sido libertado em 1990 e falecido apenas em 2013, já livre.
Ou seja, muitas pessoas tinham a memória de saberem da morte de Mandela em uma época em que não ocorreu, criando uma memória social de fatos que não são verdadeiros.
Exemplos de Efeito Mandela
Esse mesmo fenômeno também acontece com outros fatos, desde os mais simples até outros mais complexos. Um exemplo que foi bastante estudado nos Estados Unidos são de pessoas que afirmam que estavam na região de Nova York no dia do ataque às torres gêmeas e que lembram de ter visto a fumaça ao longe.
No entanto, ao analisarem a rotina e vida dessa pessoa, muitos deles estavam distantes demais, até mesmo em outras cidades, mas confundem a memória por conta da exposição excessiva sobre o caso.
Para dar outro exemplo mais simples, muita gente acha que o rabo do Pikachu, personagem de Pokémon, tem uma faixa preta na ponta. Porém, essa faixa nunca existiu e o rabo do personagem sempre foi inteiramente amarelo.
Esse fenômeno social vem ganhando cada vez mais espaço de discussão, principalmente com a ascensão da internet, redes sociais e disseminação de informações falsas. Mas existe uma relação entre tudo isso?
Explicação científica
Essa discrepância entre a memória coletiva e a realidade tem sido objeto de muita especulação e pesquisa, principalmente por estudiosos das ciências sociais e neurologistas que estudam a memória.
No entanto, não existe uma explicação científica clara para esse fenômeno. Muitos sugerem que pode ser explicado por uma falha na memória humana ou por confusão com outros eventos semelhantes.
A explicação provável definida atualmente é que se trata de um fenômeno psicológico em que a memória é influenciada por informações imprecisas ou incompletas e por influências culturais e sociais.
Ou seja, seria uma mistura entre memória humana, confabulação (quando a memória preenche as lacunas com fatos prováveis, mas não verdadeiros) e sugestionabilidade, sendo essa última muito influenciada pelo acesso a informações falsas.
O Efeito Mandela e as informações falsas
Considerando a sugestionabilidade e a confabulação, é possível notar que as informações falsas podem influenciar (e muito) na criação de um Efeito Mandela sobre um tema.
A sugestionabilidade, que é a tendência da memória ser influenciada por informações ou sugestões externas, pode levar as pessoas a incorporarem informações falsas em suas memórias.
Por exemplo, se uma pessoa é exposta repetidamente a informações imprecisas sobre um evento, é possível que ela incorpore essas informações em suas próprias memórias e acredite que o evento ocorreu de uma maneira diferente daquela que é documentada na realidade.
Além disso, a confirmação viés, que é a tendência de as pessoas procurarem e acreditarem em informações que confirmam suas próprias crenças e preconceitos, também pode levar as pessoas a aceitarem informações imprecisas ou falsas como verdadeiras.
Fake news e deepfake
Dois fenômenos que também podem contribuir com a criação de diversos Efeitos Mandelas nos próximos anos são as fake news e o deepfake, já que são informações falsas vistas como verdadeiras por muitas pessoas.
Deepfakes são vídeos ou imagens que foram manipulados digitalmente para criar uma aparência realista de algo que nunca aconteceu ou de alguém que nunca existiu. Eles podem ser usados para criar imagens ou vídeos falsos de eventos históricos, por exemplo, distorcendo a memória ou informações que as pessoas têm sobre aquilo.
Um exemplo recente foi a imagem do papa Francisco utilizando um casaco branco supermoderno por cima de sua vestimenta religiosa. Essa imagem foi criada a partir da inteligência artificial e é falsa, nunca ocorreu. Mas muita gente que passou pela imagem pode acreditar até hoje que ela é real.